Para refletir
O homem foi criado para amar e ser amado. E é preciso estar muito ferido e machucado por dentro para negar que o amor exista, ou seja, possível. No geral e no comum, as pessoas aceitam e procuram o amor, acreditando nele e sentindo sua presença inegável ao seu redor. A graça de uma criança, o carinho de um filho, a meiguice dos pais, o beijo em família, o riso e as lágrimas de emoção, o perdão, a paciência de quem ensina pela centésima vez, um carinho, um silêncio de quem entende... Há tantas coisas apontando em direção ao amor, que só a cegueira de quem está enfermo e ferido negaria tal mistério.
Dom inexplicável da vida é nela que o amor emerge como parcela do infinito. Mil definições não seriam o bastante para trazer mais perto de nossa compreensão este mistério tão acessível e, contudo tão inexplicável. O homem nasce, cresce, vive e morre buscando amar e ser amado, e durante este percurso consegue apenas assimilar, se tanto consegue, porque definir e explicar o que seja amor, ninguém jamais conseguiu em plenitude. Nem Sócrates, nem Tomás de Aquino, nem Aristóteles, nem Pascal, nem sábio algum definiu a contento o que é este sentimento profundamente divino e profundamente humano que está em cada ser pensante que vem a este mundo. O único que poderia dar tal definição satisfatória não se ocupou disso. Encarnou-o e lançou o seu desafio: aprendam de mim que sou manso e humilde de coração! (MT 11,29). Mas o mistério ficou para ser desvendado.
Se lhe perguntassem qual é o gosto de uma laranja, você conseguiria descrevê-lo? Se lhe perguntassem qual o som de um violino, você conseguiria explicá-lo por escrito? Se lhe pedisse para mostrar o perfume de uma rosa, você teria condições de fazê-lo? Então, não tem também condições de definir ou explicar este sentimento que se chama amor. Mas o que você sabe e eu também sei é que ele, vai se desenvolvendo e se manifestando em nós, ás vezes de forma velada. Vivemos de respirar amor. E ele é tão importante em nossas vidas como o ar que respiramos e o alimento que nos mantém sadios e vivos.
Você tem o direito de amar, e também de ser amado. Como toda a criatura de Deus você não existe por acaso ou por acidente, se nasceu, se chegou até aqui é porque sua vida responde a um objetivo que não depende apenas de você. Qualquer pessoa que acredite na vida e no criador da vida tem por questão lógica, o dever de amar tudo aquilo que é fruto do amor do criador. E você faz parte desse amor. Todo o seu ser caminha para a realização e dentro de você há um chamado que nem você mesmo consegue controlar. É o chamado de Deus para que você ame e aceite ser amado.
Mas porque o ser humano é incrivelmente limitado, não são poucas as pessoas que fazem mau o uso do direito de amar e ser amadas. Possuem tal direito, mas não ama direito. Ou levadas pelo egoísmo, ou pelas paixões, governadas apenas por instinto, ou ainda, por ignorância ou incapacidade mental, confundem o direito de amar com o direito de possuir uma pessoa. E tal modo, quer tomar conta do outro que o transforma não em sujeito, mas em objeto ou coisa que pretendem só para si. Passivamente também há quem preste ao papel de coisa ou propriedade alheia. A paixão e o instinto podem ser tão fortes que a pessoa acaba renunciando á sua capacidade humana e entregando-se como objeto de prazer aos caprichos de uma ou mais pessoas. E todo e qualquer relacionamento que se torna possessivo, egoísta, agressivo, exclusivista demais, sufocante e desrespeitoso da liberdade de escolha do outro é um desvio do direito de amar e ser amado.
Mais ainda. Tão importante quanto saber amar é saber ser amado. E se uma pessoa não aceitar a realidade dos fatos, cairá no ridículo de querer ser amada a força. Ninguém tem o direito de ser amado como quer. O outro é um ser livre e só pode amar dentro de suas limitações. Exigir, portanto, que pai, mãe, amigos, parentes, namorado, esposa, filhos nos amem como nós gostaríamos que nos amassem é imaturidade. Não passa de egoísmo dos piores impor regras ao jogo. Saber aceitar a dose de amor do outro ou até seu silêncio e sua falta de interesse é a prova de equilíbrio mental e integridade. Ninguém pode forçar o outro a um amor que o outro não sente. Nem Deus faz isso com as criaturas. O amor ou é livre e gratuito ou neurose. Como nosso criador que sabe ser amado, nós criaturas Dele, somos convidados a saber ser amados. Em geral quem aprende a ser amado não aprende a amar. Uma atitude faz parte da outra.
Numa sociedade como a nossa que coloca a primazia dos sentimentos acima da razão e que, até por concepção de vida, coloca as coisas em primeiro plano e as pessoas em segundo, amar e ser amado é uma virtude que tornou mais difícil. O homem é tão solicitado pelo egoísmo do cotidiano e pela competição inclemente da sociedade de consumo que passa a ver o outro como rival ou competidor. E nas relações humanas não importa para muita gente quem tem mais a oferecer e sim quem tira mais do outro. Pessoas metem na cabeça de que estão apaixonadas por alguém e querem este alguém para si a ponto de perder o juízo e a vergonha. Já não interessa mais o amor e sim a paixão egoísta de vencer e possuir afetivamente uma pessoa livre. Em tal sociedade o amor vai ficando cada dia mais raro e a paixão mais comum. Tal sociedade não pode ser feliz.
No plano de Deus o homem existe para amar e ser amado, mas com inteligência: nunca usando as pessoas; nunca impondo os seus sentimentos; respeitando sempre o direito do outro de dizer que não e que sim. Ninguém deve ser obrigado a gostar do outro. O que deve haver é respeito, mas o amor é dom gratuito. E é preciso saber que há muitas maneiras de amar. Uma delas é a amizade, outra um relacionamento respeitoso de pessoas íntimas, outra ainda o perdão aos adversários e até aos inimigos, outra o carinho de pais e filhos, outra o afeto profundo e íntimo de marido e mulher e, outras mais, toda essa gama de relacionamento humano pode levar ao amor ou á paixão, dependendo da maturidade das pessoas em questão.
Não sei o que você pensa do amor. Talvez já o tenha experimentado. Talvez tenha dúvidas. Talvez seja uma pessoa feliz, porque ama e é amado. Seja o que for desejo que você descubra a diferença entre amor e paixão e entenda, para seu próprio bem, que amor é infinito, mas as pessoas são limitadas. Não exija de ninguém mais do que esta pessoa pode oferecer. Ame com o coração e com inteligência e nunca se magoará. E que é melhor ainda: nunca prejudicará a ninguém. Se não conseguir todos os seus objetivos, ao menos será uma pessoa inteira e feliz; porque em questão de amor só é feliz quem te capacidade inesgotável de dar e receber, e imprudência de quem sabe a quem dá, porque dá é como dar o seu amor. O resto é egoísmo!
Linduh texto. Amei.
ResponderExcluir